ESCRITOS JSN

UM ESPAÇO PARA O LIVRE PENSAR

Vienna

O alento que Billy Joel nos ofereceu

Estar à deriva da Vida traz à tona alguns elementos com os quais, muitas vezes, não estaremos preparados para lidar. Quando o desespero tomar espaço e a urgência tomar a mente, lembre-se que Billy Joel antecipou este movimento e criou um antídoto para este ciclo viciante da nossa própria existência.

Billy Joel – Vienna (Audio)

Slow down you crazy child
You’re so ambitious for a juvenile
But then if you’re so smart tell me
Why are you still so afraid?

Quantas vezes não sentimos uma necessidade incessante para ser e para ter mais. Exigimos um padrão acima de qualquer resquício de bom senso; apostamos o que temos e o que não temos em um futuro incerto e duvidoso. Estamos ávidos pelo o que podemos ter e podemos ser; esquecemos do temos e somos.

Where’s the fire, what’s the hurry about?
You better cool it off before you burn it out
You got so much to do and only
So many hours in a day

A cada instante, perdemos a capacidade de desacelerar o modo automático da vida. O desespero crescente de otimizar todas as horas do dia para fazê-las produtivas a todo custo. E, mesmo assim, ainda não estamos fazendo ou sendo o suficiente.

But you know that when the truth is told
That you can get what you want
Or you can just get old
You’re gonna kick off before you even get halfway through 
When will you realize, Vienna waits for you?

O ritmo frenético para chegar onde tanto se deseja; mas, jamais contanto com a garantia de que isto acontecerá. Entretanto, há um lugar que pode nos ofertar a calmaria que desesperadamente precisamos. Um lugar em que poderíamos reaprender a desacelerar.  

Slow down you’re doing fine
You can’t be everything you want to be before your time
Although it’s so romantic on the borderline tonight

Dê tempo ao tempo; dê tempo aos seus planos. Não exija demais. 

Too bad, but it’s the life you lead
You’re so ahead of yourself that you forgot what you need
Though you can see when you’re wrong
You know you can’t always see when you’re right

Presos à ilusão de que o futuro nos envolve de forma reconfortante, esquecemos das partes da vida que realmente precisamos e que somente o tempo presente pode nos oferecer. 

You got your passion, you got your pride
But don’t you know that only fools are satisfied?
Dream on, but don’t imagine they’ll all come true 
When will you realize, Vienna waits for you?

A maravilha está na possibilidade, liberte-se para sonhar mais e aprenda que ainda há certa beleza naquele sonho pelo qual esperamos mas nunca aconteceu.

Slow down you crazy child
Take the phone off the hook and disappear for a while
It’s alright, you can afford to lose a day or two 
When will you realize, Vienna waits for you?

Permita-se perder-se no tempo algumas vezes; parte da vida é não saber onde, como ou quando iremos nos encontrar. Apenas não esqueça de recobrar os sentidos depois.

And you know that when the truth is told
That you can get what you want or you can just get old
You’re gonna kick off before you even get halfway through 
Why don’t you realize, Vienna waits for you?

***

Talvez, seja tudo uma questão de tempo. Travamos uma constante, inesgotável e exaustiva briga a todo instante com os Senhores do Tempo: Passado, Presente e Futuro. Reservamos ao primeiro os espaços da memória. Ao do meio, os espaços das angústias. E ao último, os espaços dos sonhos.

Nossa discordância não é singela. A inquietação vem da percepção de que para o Futuro estão reservados às glórias, o esplendor e magnificência que a vida tem a oferecer. Enquanto que no Presente, a agonia, a angústia e a ânsia por mais imperam. A necessidade de querer mais a todo tempo – ser mais; ter mais. 

O Futuro, sendo palco do desconhecido e sujeito da imprecisão, curiosamente parece ofertar mais que o Presente. Talvez, sonhamos tanto com o dia de amanhã justamente por poder sonhar. Enquanto ainda não for concreto, podemos modificá-lo em qualquer circunstância, vontade ou desejo. É o único momento em que podemos brincar com a onipotência. 

O Presente é aquele de quem mais guardamos ressentimentos, uma vez que dele exigimos muito e nos é exigido. Seu braço direito, o tal do Relógio, apresenta aos mais calmos a precisão da hora e aos mais rudes a corrida com ele. 

Entretanto, se guardamos todos os sonhos para o Futuro, de que será formado o Presente? Esquecemos que o dia de hoje já foi o palco dos sonhos uma vez e que passou seu título adiante junto com o decorrer da Vida. 

Haveria alguma escapatória para este combate com os Senhores? Não podemos julgá-los porque estão apenas fazendo seu trabalho, é uma questão impessoal. Quem sabe, não poderíamos aprender a enxergá-los de outra forma, encontrando alguma possibilidade de trégua.

Talvez, Vienna seja a cidade do Tempo Perdido. Onde um estabelecimento, com um piano ao centro, nos oferece a melodia do reconforto que tanto precisamos. Embora não seja a cidade de Proust, é o local onde no presente o imaginário e a vida ganham o espaço que merecem.

Um lugar em que os Senhores do Tempo respeitam a existência e que, pela primeira vez, encontram paz e harmonia entre si. Um ambiente onde as respostas não precisam ser ditas, haverá oportunidade para elas mais tarde. Não entenda mal, a cidade do Tempo Perdido não as ofertará, apenas servirá de guia para que todos possamos finalmente encontrá-las. 

Curioso pensar em um local como esse. Ninguém sabe ao certo como abrir as portas da cidade; contudo, uma vez encontradas as chaves, estas jamais se perderão. O primeiro passo já nos foi ofertado por Billy Joel quando reaprendemos pela prática a sensação de alento.  

Afinal, Vienna está esperando por todos nós. 

Lançada em 1977,  a canção de Billy Joel oferece muito a qualquer geração e qualquer indivíduo que se disponha a escutá-la. Resta-nos agradecê-lo por este alento. 

Obrigada pela leitura. Até breve!

Serenamente, 
Julia. 

Barra de Desassossego

Trazer o Desassossego como tema para um escrito pode parecer a tentativa de invasão um espaço pessoal, individual e particular. A descrição que a gramática nos proporciona nos dicionários para esta palavra parece não ser o suficiente; cada um de nós agrega um significado próprio. 

Em uma esfera mais profunda do subconsciente, há um desarranjo de sentimentos em relação ao Desassossego. A palavra, quando raciocinada, causa inquietação. A mente, desconcertada, encara o Desassossego como um segredo a ser sussurrado entre outros pensamentos – evitando, a todo custo e esforço, que esta sensação perdure.

Este movimento pode passar despercebido para quem estiver desatento; todavia, uma mente questionadora não deixaria esta lacuna em branco. Por que a descrição sobre o Desassossego é insuficiente e há tanto a ser dito? Qual é a causa do desconforto se pensado sobre ele? O devaneio de hoje ocupa-se em guiar os leitores para que possam responder à sua maneira tais questões e muitas outras. 

A Natureza Humana, incerta e mutável, torna-se o centro das atenções quando o comportamento humano está em cena. Não cabe aqui, neste momento, tentar enquadrá-la em poucos adjetivos ou convicções. Tomaremos, pois, apenas um aspecto a ser discutido e pensado: a inquietude que permeia o ser humano. 

Em todas as suas possíveis extensões, físicas e – especialmente – mentais, o indivíduo, mesmo acomodado, demonstra insatisfação com a própria inércia. Pegando como exemplo o âmbito mental, os pensamentos realinham-se em nanosegundos; o cérebro, mesmo enquanto dormimos, jamais interrompe suas funções. A agitação está  presente a cada tomada de consciência e ao despertar da inconsciência. 

A partir do momento em que o ser humano começa a questionar sua própria existência e tudo o que está a sua volta – ou em sua mente, assumimos um estado de tormento e dúvida constante. Nestes momentos, dificilmente encontramos a sensação de equilíbrio, satisfação ou calmaria; notamos que mente e coração não encontram-se em harmonia, a velocidade do pensar não acompanha a velocidade do sentir e vice-versa. A todo instante, há algo de errado; um alerta de que nada encontra-se nos eixos. 

Neste ponto, chegamos à nossa primeira tentativa de compreender o que seria o Desassossego: um estado de alerta que ocasiona uma incessante inquietação na alma e no coração de cada um de nós. 

Fernando Pessoa, com primor e excelência, escreveu o “Livro do Desassossego” onde argumentou, com talento e perspicácia: 

“Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende.”

Livro do desassossego, Fernando Pessoa.

Torna-se uma busca incessante, pelo o que eu não saberia dizer ao certo e penso que ninguém jamais descobriu. Talvez seja da chamada Natureza o impulso de não permanecer na inércia; talvez seja a necessidade impreterível de continuar – o perigo de permanecer estático é arriscado e algo que não deseja ser encarado. 

Esta reflexão ousa ir mais longe e considerar que nada está bom ou minimamente satisfatório em qualquer momento ou qualquer realização. Não sabemos dizer o que há de errado por achar que nada acaba sendo o suficiente. A inquietação abre espaço com condecorações ao desespero. E este, por sua vez, acaba dominando o pouco de controle que o ser humano ainda tinha. 

Pela inquietação, a busca era incessante. Pelo desespero, a busca torna-se insustentável e degradante. 

A procura pela mudança, em um primeiro instante, pode parecer uma iniciativa positiva, estimulante e até cativante. Contudo, não estamos à deriva deste tipo de mudança. A angústia pelo desejo de que a vida não seja estática origina uma procura incessante e desgastante na mesma proporção.

Procuramos, então, neste ponto da reflexão, a origem de tal necessidade. Anteriormente, já afirmei que não tenho resposta para nada, mas perguntas para tudo; e aqui está a próxima questão: essa necessidade desgastante é realmente sua? A infelicidade e a falta de contentamento consigo mesmo foi uma conclusão que chegou por conta própria ou por que algum fator externo sobressaiu-se diante de qualquer autopreservação que ainda lhe restava? 

O embate fica travado entre dois panoramas existenciais que desgastam a existência de quem a eles fica submetido: uma mente autodestrutiva que não contenta-se com nada e uma presença maquiavélica externa repleta de exigências, padrões e demandas. É, justamente, a parte externa que acaba sendo agravada e incomensurável ao percebermos que não estamos falando apenas do ciclo social em que estamos envolvidos; consideramos também o ambiente virtual. 

A necessidade pela busca que a pouco mencionamos encontra na Internet o que aparenta ser uma possibilidade divina: a barra de pesquisa do Google como a fonte miraculosa de soluções para qualquer problema. 

Entretanto, as soluções não são resolutas ou eficazes. Os milagres ofertados como respostas não são reais, mas proporcionam uma crença imutável de que são. E que, mesmo com a inconsistência apresentada, leva o indivíduo a acreditar que a solução está a apenas um clique. 

Não falamos aqui de perguntas técnicas e práticas que, de fato, podem ter soluções ofertadas pela barra de pesquisa. Estamos citando as situações em que as respostas criam uma pseudo realidade e oferecem a ilusão tentadora de que tais soluções poderiam ser genuínas. 

Observe por conta própria as perguntas que fazemos no Google, muitas vezes de forma automática. Há um aviso do subconsciente de que a resposta não trará ao mundo físico e real o que desejamos; mas a sede para acabar com essa inquietação e sancionar a angústia nos faz querer pesquisar. Porque queremos acreditar que a mudança – neste caso específico que apresentamos – será solucionada por apenas um clique. Temos, assim, a sensação de que saímos da temida inércia só pela iniciativa da pesquisa. 

As famigeradas thread tentam “ensinar” 5 passos para alcançar a fama ou para ter sucesso, despertando uma vontade endógena de ser reconhecido e de ter valor. A possibilidade de significar algo e de ser alguém encanta os olhos de todos que desejam acabar com o sentimento de inutilidade e inquietação. Vemos uma oportunidade para ter paz interior. 

Artigos de blog apresentam as “Profissões do Futuro” onde desesperadamente esperamos estar incluídos ou encontrar potencial próprio na lista apresentada. Enxergamos cada uma das profissões listadas como uma garantia de que no futuro incerto teremos a estabilidade que ensandecidamente buscamos no presente. Queremos encontrar a todo custo uma base, algo sólido, alguma coisa que nos dê sustentação e cesse a angústia que nos consome no presente (e parte da que nos consumiu no passado). 

Testes de personalidade dão a impressão de que fazemos parte de um grupo, parte de algo. É reconfortante imaginar que a mesma angústia, os mesmos traços são compartilhados com mais pessoas. Não estamos sozinhos ou isolados – porque o ser humano entra na própria desgraça ao se imaginar em um passado, presente ou futuro solitários. 

Há uma possibilidade, absurdamente pequena e relutante, de que alguém com discernimento, boa interpretação, alta capacidade de aplicação e muita sorte possa encontrar o que precisava no meio destas perguntas. Quem sabe, alguém – de fato – encontre seu próprio milagre que não seja uma ilusão alentadora. 

Apesar de querer acreditar (e torcer) para que este fosse o caso da grande maioria, a probabilidade não é compatível com o esperado. Estamos no lado que terá que trabalhar de outra maneira para achar suas próprias respostas

Talvez o problema também seja o fato de que não estamos preparados para lidar com nós mesmos. O autoconhecimento nos apavora, já que preferimos ocultar, esquecer e negar as partes que somos. Por isso, respostas genéricas têm efeito manada; justamente porque são genéricas – referem-se a ninguém e a todo mundo contraditoriamente, tendo seu efeito multiplicado no meio virtual. 

Olhando para a “for you” ou para o “feed” tentamos encontrar algo que não está lá e jamais estará. Aqui, fica óbvio que a busca será incessante porque estamos atrás de um conforto que nunca existirá se não começarmos a nos entender por conta, vontade e iniciativa própria. 

Atente-se: a comparação dilacera o espírito de quem está tentando se encontrar. 

Acelera um processo em que não cabe a medida da velocidade; as questões e os parâmetros deveriam ser outros. Trocar os padrões alheios pelo autoconhecimento; privilegiar a paz de espírito e não satisfação da provação alheira. Contentar-se por ser o suficiente e  não por conseguir atingir o que era esperado de você.

Apresento a hipótese de que parte do Desassossego que carregamos não nos pertence de fato. Um compilado de pressões externas, coisas que não deveriam ter sido ditas mas infelizmente foram escutadas e absorvidas. O subconsciente trabalha contra nós nos casos que memorizou o que deveria ter sido desprezado e agora está ocupando espaço nas paredes da mente – um espaço que talvez estivesse destinado a outras memórias; aquelas que, de fato, deveríamos carregar. 

Graças às memórias desprezíveis,  o conforto não é encontrado, tampouco a paz. O espírito que já é agitado por natureza própria acaba tornando-se frenético – um ritmo acelerado e descompassado que mal pode ser chamado de ritmo. Um caminho propício para acomodar os demônios internos que cativamos. 

Por esta razão, ficar parado não é uma opção. Não engane-se ao ler isso de forma otimista, este aspecto talvez seja o último da lista. Não podemos sucumbir à inércia porque o perigo é jamais voltar de lá. O lado tenebroso no Desassossego é deixar que o estado de angústia provocado por ele nos consuma constante e impiedosamente. 

Ser consumido pelo nada por pensar que ele pode significar e dominar tudo. 

Tudo o que não nos atormentava mais e tudo o que restou do doloroso processo. O medo de perceber que a paz de espírito não é plena e demonstra indícios que jamais será. Entretanto, tudo isto em nenhuma hipótese será motivo para sucumbir totalmente. 

Tenhamos todos um pouco mais de confiança no processo e em nós mesmos. Não posso oferecer a garantia de que um dia o desassossego desaparecerá; todavia, enxergá-lo com uma parte válida e essencial da vida é um caminho. 

O autoconhecimento será o responsável para que possamos encontrar o equilíbrio novamente. Conhecer e estabelecer os próprios limites, entender o porquê pensamos determinadas coisas e a que decisões chegamos são passos que demorarão mas nos guiarão para liberdade de ser. 

O processo é conturbado e demanda tempo; entretanto, o alívio de poder entender-se, de controlar as expectativas e o tempo é, certamente, um bom incentivo. E, se vale de consolo, estarmos respirando já é um sinal que saímos da inércia. Controlar parte do desespero é preciso para enxergar além do que vimos sufocados. 

Deixe a Angústia e o Desespero partirem em uma viagem sem volta. Apesar do Desassossego não poder juntar-se a eles, considere-o agora um amigo de longa data de quem passou a apreciar a companhia, eventualmente.

E a Paz no final disto tudo? Esta ficou entretida com suas parceiras Calmaria e Equilíbrio. Espero que todos nós sejamos capazes de um dia, quem sabe, ser convidados para tomar um chá ou café entre este seleto grupo. 

***

Que de alguma forma este texto possa ter quebrado ou, ao menos, minimizado a frequência de desassossego de alguém que o leu! Agradeço pela leitura. Até breve!

Solenemente, 
Julia.

Rascunhos Rebuscados

O que querem de nós, afinal?

Por muito tempo desejei um espaço em que a Liberdade pudesse ser usada em sua forma mais pura e autêntica. Gostaria de escrever e enxergar a escrita como um ato para testar os limites das ideias que tinha e um experimento para ver até onde poderiam chegar. Ver, inclusive, se a Imaginação e a Criatividade tinham limitações. 

Não foi difícil perceber que certa hora o limite chegaria. Entretanto, o intragável da história está em como ele se deu. 

Adoraria publicar o primeiro texto desta coluna sobre um assunto mais ameno e menos incisivo. Talvez – alguns diriam – menos polêmico; contudo, tenho a suposição de que tudo torna-se polêmico nas mãos de quem quer comprar briga.

A escrita também é um processo de autoconhecimento. Quão boa é sua ideia ao ponto de torná-la concreta usando uma certa escolha de palavras

Escrevi em todos os momentos que pude ao longo desses (quase) 20 anos; todavia, meus textos mais sinceros em todos os aspectos de criação foram aqueles que entreguei aos meus amigos. De bilhetes à cartas, eram nesses momentos em que eu encontrava alguma paz de espírito. 

Devo muito a todos eles. Porque, graças a episódios como esses, percebi que gostava de escrever pela liberdade que sentia e pela possibilidade de imaginar que alguém estaria interessado no que eu estava disposta a dizer. 

Adoraria sempre oferecer palavras de conforto ou de certa substância para conseguir, ao menos, entreter de forma agradável quem dispusesse de parte do seu tempo para ler o que tenho a escrever. Entretanto,  não são todas as situações que enquadram-se a este molde. 

Talvez crescer e amadurecer também signifique que teremos que encontrar inspiração por conta própria. Para alguém que considera escrever uma ação prazerosa, começa a ficar claro que determinados assuntos ultrapassam a mera vontade e curiosidade; alguns deles precisam ser ditos – ou melhor – escritos

Por essa razão, o escritor também deve mostrar traquejo com as palavras que ousa fazer usas – mesmo que por apenas um instante ou metade de um papel. Palavras carregam consigo significados únicos e precisos; escolher seu melhor arranjo com primor não é uma tarefa sistemática.

Nada é o que parece; as maravilhas estão nos detalhes. A relação do escritor com seu texto pode ser comparada com a existência de um caleidoscópio: novos arranjos podem ser criados a todo momento, tudo depende da perspectiva. 

Rascunhos, com ajustes e alterações, tornam-se textos rebuscados. O potencial, de fato, só existe porque o núcleo da ideia conservou-se – ou seja, desde o início, já existia um rascunho rebuscado que buscava por um escritor para desenvolvê-lo. 

Todavia, apesar das esplendorosas visões que essa motivação pode guiar, um específico tipo de público (se é que poderíamos chamar desta forma) flagela qualquer resquício de criatividade com uma busca incessante pela perfeição que alcança níveis utópicos. “Deslizes não são permitidos” – um mantra perverso que certas pessoas, pela constância e insistência, vencem pelo cansaço e, sorrateiramente, fazem os outros acreditarem em uma falácia como esta. 

Há algo de errado, para dizer o mínimo. Começamos, pois, a desenrolar este devaneio. 

Um fator disso tudo me incomoda a muito tempo. Os limites que antes esperava encontrar por contra própria foram, na realidade, criados, intitulados e moralizados de forma pífia por vias terceiras. Alguns, interessados em perseguir uma perfeição inexistente e exigi-la a qualquer custo; outros, ousam ultrapassar os parâmetros da decência e da moralidade ao criticar de forma desproporcional e inconcebível. O propósito deste grupo passa a ser atacar de forma agressiva, absurda, desproporcional, incoerente e execrável. O objetivo torna-se executar um julgamento sem que o réu tenha direito a defesa ou retalhação; além de constrangê-lo até a última instância. 

Quão poucos são aqueles que se atém à palavra decência? Não acho sensato esperar – ou exigir – esta postura de alguém. Certas esperanças não precisam ser nutridas quando no fundo já sabemos que resultarão em decepções.

Um conselho? A raiva, o ódio, a agressão e os insultos proferidos por muitos, são os sinais de uma alma atormentada pela vida e pela própria realidade. Sendo assim, ignore-os. Eu mesma deveria aplicar esta fórmula mais vezes. Entretanto, creio que pode ser da Natureza Humana tentar buscar a compreensão, mesmo nos casos de estupidez. 

O verbo criticar, neste ponto, é deturpado em grandes proporções. A ironia presente é que os próprios críticos não sabem o que é ou como sequer executar uma crítica. 

Dirigir-se a “Todo mundo” é a mesma coisa que falar para o além. Se o discurso é genérico e, especialmente, generalista, desconfie. Genérico no sentido de dizer tudo e não chegar a lugar nenhum. Generalista, ao evocar todos e não citar ninguém. Em outras palavras, quando o conteúdo e o destinatário são imprecisos, desconfie

Segundo esta escumalha há temas que eu não deveria escrever, falar ou argumentar sobre. Porque mesmo escolhendo o melhor arranjo de palavras, de qualquer maneira, alguém irá mal interpretá-las. Se as palavras não agradam, muito menos a escolha pelos assuntos. O que esperam de mim, afinal? O que esperam de todos nós? Gostaria de dizer que rebato a hostilidade de alguns com a minha indiferença. Porém, até mesmo esta, está reservada para outros assuntos. Sendo assim, me resta deixar claro a posição que assumo. Àqueles que de conteúdo nada entendem, vão se fuder. Não se assuste pela escolha de palavras, inclusive. Aqui, nada melhor e mais sonoro do que um bom palavrão empregado – expressa, justamente, a adequada tonalidade a ser usada.

Sugiro a estes sanguessugas de espírito e ânimo que escolham outro alguém para tirar o sossego já que de mim ganharam no máximo desprezo. Reservo-lhes um outro ambiente: o puro esquecimento. Seu lugar lá estará garantido sem nem ao menos necessitar de agendamentos prévios. 

Refiro-me aqui a ninguém e a todo mundo (percebe a ironia?). Entendam estes como quiserem. Já sei que, provavelmente, neste ponto, algum deles já terá deturpado o que escrevi; então, de pouco importa (ou de pouco me interessa).

A hostilidade que aqui demonstro, caso ainda não tenha ficado clara, é puro e explícito sinal de autopreservação. Por que assumir esta postura? A probabilidade de consideração de eventos múltiplos e variadas repercussões está a meu favor. Em outras palavras, reportar-me sobre algo que ainda não ocorreu (mas já estava premeditado justamente por ser inevitável em um certo ponto) é mais estratégico do que esperar a ordem dos fatores. 

Livro-me de qualquer entrave, restrição ou contenção que, involuntariamente, poderia estar comigo e aproveito a deixa para esclarecer o que mais for necessário. Assumo categoricamente: aqui, reivindico o espaço de livre-pensar. Deixaremos claro, explícito, acordado e categorizado: 

que a Liberdade de pensar, ser e existir impere;

que a Intolerância não tenha lugar;

que os Direitos Humanos sejam referências e não objetos de ironia por quem jamais os compreendeu;

que a Ciência e a Educação sejam entendidas como pilares

e que a vida possa ser vivida com o máximo de Dignidade possível.

Resta-me ser, em todas as proporções, humilde. Afirmo peremptoriamente: não tenho respostas para nada, mas tenho perguntas para tudo. A humildade apresenta-se no ser ao assumir que não detemos toda verdade; a autenticidade vem da busca pela compreensão da mesma. 

Neste ponto, ela apresenta-se ao lado do respeito – como dois conceitos intrínsecos, indissociáveis e aplicados de mão dupla.A partir do momento que haja transgressão de uma dessas ideias, não devo nada a ninguém que não esteja disposto a comportar-se de modo recíproco. Há uma postura humilde em reconhecer que ninguém é dono da verdade; a autenticidade de todo o processo está em buscar por ela. Por vezes, não a encontraremos, mas o caminho percorrido por si só já é revelador. 

Não atrevo-me a dizer em nome de ninguém; não ouso fazer de minhas palavras as dominantes. Falo única e exclusivamente por mim mesma. Me responsabilizo apenas pelas palavras que escolho e pela forma como as digo. 

Retornando ao fulcro da questão que, de fato, interessa, invoco a lei maior: escrevo porque quero e tenho vontade. Escrevo sobre o que quiser. Tomarei como guia o caráter que construo a quase 20 anos e os valores cultivados; deixarei os ideais inspirarem e alimentarem as vontades do ser. Que seja esplêndido sua existência só pelo fato de existir. 

Escrevo porque esta é a forma de libertação que conheci. Talvez exercer plenos poderes sobre a escolha de palavras seja uma sensação de controle que aprecio. Já que, pelas palavras que uso, escolho as armas para lutar em cada batalha.

Não esperem a concretude dos aplausos e da glória para buscar pelo esplendor. Por vezes, carregar consigo a paz de espírito e a calmaria da mente é a maior consagração de vitória e de sucesso que alguém pode conhecer.

Por essa razão, posso afirmar que escreveria este texto novamente, com as mesmas palavras, nas duas circunstâncias extremas: sem ninguém para lê-lo ou com uma plateia esperando por ele.

Tendo argumentado e firmado certas posições, encontro-me em um estado que há tempos não estava mais acostumada: alívio. Mesmo com um adversário desconhecido, coloquei minhas cartas em jogo com convicção e estratégia  para buscar a vitória. 

Caso a metáfora não tenha se esclarecido por conta própria, fica sua versão explícita também ao caro leitor: a vitória nada mais seria do que a liberdade de ser.

Apesar do jogador adversário ainda permanecer no anonimato – seja pelo tempo ou pelas circunstâncias – algo me diz (e fica a critério do leitor chamar este evento de acaso ou pressentimento) que este jogo está a meu favor.

***

Acostume-se, os textos neste blog serão extensos. Entretanto, creio que se chegou até o final deste primeiro,  talvez se interesse pelo o que vem por aí. Agradeço pela leitura! Até breve. 

Autenticamente, 
Julia.

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