UM ESPAÇO PARA O LIVRE PENSAR

Categoria: Reflexões & Devaneios

Alimentados por Sonhos e Utopias

Foi-me dito que sonhar muda o mundo. Todavia, aparentemente, ninguém teve a decência prévia de explicar o porquê da afirmação. Se antes confiávamos que a origem da frase residia no sentido de que a vida, em sua forma mais positiva, é o agente transformador. Hoje, na famigerada casa dos 20, consigo perceber que é uma origem camuflada. 

Simples porque:  ninguém queria explicar o porre que seria. Talvez para desviar de ansiedade e desânimo em relação ao futuro, ou então evitar grandes explicações sobre as implicações contínuas da vida adulta. De qualquer forma, muitos foram aqueles que palpitaram sobre o nosso futuro e pouquíssimos aqueles que minimamente nos prepararam. 

E no futuro chegamos. E honestamente? Aqui tá todo mundo cansado. Ninguém sabe para onde ir ou quem ser. Perdemos inúmeras e substanciais coisas no meio do percurso e hoje estamos com dificuldade em lembrar que coisas eram. 

Os sonhos passam a ser disfarçados por metas e objetivos e agora são medidos em rendimento, assim como a nossa vida. Desejávamos certas profissões pela vontade de ser, agora precisamos delas para sobreviver, ou pior, para encontrar um objetivo único de vida. A loucura e o divertimento ficaram para trás, não só como memórias, mas agora também como aspectos proibidos da vida adulta séria, profissional e de sucesso. 

Será que parte do processo é esquecer como era bom viver? 

A conclusão esmagadora é de que a vida depois da infância entra em rendimento decrescente de sonhos. 

Porque no meio desse caminho torto, cansativo e exaustivo nos disseram que os sonhos de nada valiam e o conselho inicial foi ignorado. Uma parte de nós foi esmagada e substituída por uma angústia constante que não sabemos explicar ou combater. Infelizmente, aos 18, nenhum de nós recebeu o manual de sobrevivência de que estamos precisando. 

O futuro e suas maravilhas. Duas opções: ou o futuro que esperávamos ainda não chegou ou fomos enganados com um bilhete falso pro País das Maravilhas. Uma pena que não haja um tribunal disposto a  julgar um processo de retratação nesse caso.  A Corte dos Frustrados e Ludibriados deve ser exclusividade do País das Maravilhas. 

Podemos não conseguir uma auditoria, mas ninguém nos impede de criar uma; a vida adulta tem certas regalias. O ciclo de constantes angústias pode ser rompido com um pouco de empenho e um pouco de delírio. Deixamos a imaginação em escanteio por muito tempo, está na hora do comeback.  

Viver a própria Utopia para conseguir sobreviver fora dela. Imaginar a mudança para poder ver alguma esperança. Quando somos alimentados por sonhos e utopias não sobrevivemos mais, voltamos a existir e a viver.

Isso não significa que iremos sempre acertar nos sonhos. Entretanto, enquanto expressarem emoção, sentimento e razão estamos começando a alinhar o caminho.

Relaxa, bem. Não se preocupe. Uma hora a gente acerta. 

**

No último sábado (23/09/2023) durante a exibição do programa televisivo Altas Horas, liderado pelo querido Serginho Groisman, a banda de rock nacional Titãs contou com inúmeras homenagens. Entre elas, os antigos professores dos integrantes da banda foram prestigiá-los no programa. Emocionados pela ocasião, uma das presentes docentes em seu discurso fala sobre aqueles, na sociedade brasileira, que seriam ‘alimentados por sonhos e utopias’.

Inspirada pelo programa e especialmente por essa declaração, tomei a decisão de, humildemente, escrever o texto de hoje.

***

Arte feita por Julia Santos Neves 

Todos os elementos da colagem acima são devidamente creditados no post original no aplicativo Landing (basta clicar para acessá-lo).

Para o retorno do blog, nada mais justo e verdadeiro do que a publicação de mais um texto para a coluna ‘Reflexões & Devaneios’. Tendo em mente sonhos e utopias, permita que este escrito traga novos ares e novas perspectivas. 

Virtuosamente, 
Julia.

Alguns e outros de nós

Somos os que emergem e afundam na mesma intensidade. Os escolhidos simultaneamente pela glória e pelo fracasso. Os que conhecem as montanhas e os penhascos e os que vivem tudo isso às vezes sem nem mesmo existir. 

Alguns de nós são devotos do próprio ser, onipotentes da própria alma e oniscientes da própria mente. Outros são o vazio da vida ou ausência do caminho. 

Com tantas controvérsias e paradigmas, de alguma forma, somos os libertadores e os aprisionados e somos a criação que sonha ser o criador.

A maioria das vezes que tentamos criar, fracassamos como criaturas. De nada a nossa criação foi como o desejado, porque no fundo não sabemos mais o que desejar.

Talvez porque nesse processo muito se quis e pouco se deu. Porque o criador e a criação jamais se entenderam, jamais cooperaram em uníssono e jamais chegaram onde desejaram. 

O criador nunca criou de verdade. 

A criação nunca foi feita por completo. 

Porque o esforço foi infrutífero e não se soube o que era reconhecimento. A criação que criamos de nada importa se é só a vazio que dela restará. 

E o processo foi cansativo mas só alguns e outros como nós entenderam.

Talvez porque somos os esquecidos que esqueceram-se de esquecer. Os perdidos abandonados pelo tempo e pelo espaço. Os espíritos que não partiram ou desapareceram, apenas foram ficando.

Somos os que aprenderam a sentir, mas nem sempre a dizer. Aqueles que queriam existir e não esquecer. 

Somos a alma angustiada, fraudada por cores e vidas. Somos a dor que nunca some, a alegria que não nasce e a tristeza que não se perde. 

Somos o Ninguém e o Nada é o lugar que chegamos, ou melhor, o único que criamos.

Os esquecidos que foram abandonados mesmo antes de existir; os amantes que jamais conheceram o amor; os poetas que abandonaram a poieses

Somos os que foram abandonados, deixados e largados às margens das maravilhas que um dia nos prometeram. 

Somos a esperança dos tempos de glória e a desgraça dos tempos da derrota. 

Somos aqueles que sonham mas, que na maioria das vezes, alucinam. 

Somos os que tentam e persistem; somos o que podemos e fazemos o possível. 

E às vezes somos o desespero de se ver em todo lugar e não pertencer a nenhum.

Somos o delírio da alegria de viver e o abismo do desassossego de existir. Seremos o Passado, o Presente e o Futuro; mas mesmo assim seremos os ausentes.

E nada de redundante temos nisso tudo; só queremos a opção de, pela primeira vez, não precisar mais ser. 

***

Arte de Aarti Shinde

O texto só para aqueles que sabem quem são.

Espirituosamente, 
Julia.

Quando o relógio trava

Dificilmente o Tempo foi aquele que forneceu o alento de que tanto precisávamos. O senhor da verdade, na maioria das vezes, foi o catalisador de boa parte do tormento. Se não era suficiente ser assombrado pela sua existência, convivemos com a materialização da sua presença através do bendito do relógio.

Contando, regrando e regendo os segundos; vemos a precisão que não temos. A frequência ininterrupta que não tolera erros. Porque os erros geram atrasos e os atrasados não terão seu lugar garantido – aqui e no agora ou na história que o Tempo resolverá contar.

A Mente tem dificuldade de acompanhar o Tempo e o Tempo mostra desprezo pela Mente. Escolheu deixá-la em agonia do que ter a descendência de ensinar-lhe sobre a paciência. Preferiu exibir o incômodo silêncio de acompanhar os ponteiros. Enquanto estes têm função, seguimos à deriva. Enquanto têm propósito, seguimos ao acaso. 

Entretanto, o acaso nada tem de aleatório. É justamente o outro lado que reage pela falta de condescendência. E, neste instante, a mente resolve desafiar o perfeccionismo crônico do Tempo; é o instante em que a ordem natural quer colapsar o status quo.

A ideia não surge eventualmente, é quase programada. Há um momento específico que gera toda esta catarse: é quando o relógio trava.

O ponteiro não avança. Trava, estaca no mesmo lugar. Mesmo insistindo, o ponteiro apenas vai e volta para mesma posição, retorna ao mesmo segundo, congelando o tempo em uma única fração. E é aqui em que surge a Esperança. 

Esperança de que há tempo para mudar – retirar o que foi dito, desfazer o que foi pensando, escolher outra versão para ser hoje. 

Enquanto o ponteiro não se mexe, ainda há especulações. Do que pode ser feito; onde pode-se chegar. De quantas músicas podem ser escutadas, quantas páginas podem ser lidas ou quantas histórias podem ser contadas, quanto planos podem ser feitos no meio disso tudo. 

O alívio momentâneo é a sensação de que não há mais uma corrida. É a fração de segundos em que a linha de chegada desaparece; já que não há lugar para se chegar. O Tempo está congelado para que possamos aproveitar e aproveitamos porque vemos o Tempo deixar de ser tempo

E, infelizmente, é aqui que nos esquecemos. Esquecemos que a falha mecânica foi apenas momentânea e afetou exclusivamente um dos milhares de relógios que nos cercam. Quando percebemos que não há muito para se ver além disso, ficamos desolados e estagnados, pensando em como nossa Mente foi tola ao pensar que haveria um momento de rebelião. Queríamos acreditar que havia um sinal que indicasse uma conspiração maior para desafiar o Regimento do Tempo.

Entretanto, não há tolice; há reflexão. Mesmo com pouco a ser visto, há muito a ser olhado. 

A vontade do desafio é o sinal do desejo de não ser mais guiado, conduzido, condicionado e pressionado por aquele que se diz o Senhor da Verdade. É a dica para não esperar pelo momento em que o relógio trave enquanto podemos travá-lo por conta própria. 

É o instante em que o relógio passa a ser mais um daqueles que deixaremos para trás, do mesmo jeito como o próprio Tempo nos deixará. É acelerar um processo, só que em seu sentido, caminho e direção próprios. É viver pela vida e não pela existência. É cronometrar os momentos e não de horas. 

***

Arte de capa de Salvador Dalí, ‘A persistência da memória‘ (1931)

Que mesmo com os ponteiros funcionando em plena ordem, o status quo seja abalado.

Pontualmente,
Julia.

Tudo que é sólido se volatiliza

Adoraria dizer que o pouco alento e a pouca estabilidade que encontramos na vida está nas coisas concretas e sólidas que nos cercam. Buscamos por eles pois nos atormenta entender que não há possibilidades para tais coisas. 

E nos atormenta mais ainda começar a perceber que são poucos os momentos que as encontramos. 

Buscamos o conforto que a estabilidade traz a qualquer custo e a qualquer esforço. Entretanto, a angústia jamais some. Por mais concreto que imaginamos certas pessoas, ocasiões ou planejamentos há uma parte do ser – que muitos diriam ser maldita – que não se conforma. 

O sexto sentido, a percepção aguçada, ou como queira chamar, já nos avisa de antemão: algo dará errado. Uma vez que nada é ao acaso, sabemos – sem jamais admitir – que no fundo tudo que é sólido se volatiliza. 

Estamos todos aflitos e sabe os por quês disso tudo? 

Porque a mesma vontade de viver pode transformar-se na vontade de desaparecer em instantes. 

Porque a angústia, a mágoa, a dor podem deixar sua essência de tormento; enquanto a alegria e a felicidade viram um falso alento.

Porque a admiração pode transformar-se em desprezo e a indiferença em apreciação. 

Porque a vida se edifica da mesma forma como se destrói, já que o concreto é uma ilusão tão desleal quanto um castelo de areia. 

Ouso ir mais longe: a única coisa sólida em que podemos nos equilibrar são os nossos próprios sonhos, construídos e moldados por nossas vontades e ambições. É o imaginário que propicia a essência de vida que nos ergue a cada dia. É o lúdico que permeia cada entranha do ser que nos permite sonhar e pelo sonhar nos permite existir. 

É a vida que se solidifica, erguida em um mar de volatilidades. É o ser que se molda de sonhos porque acredita merecer ser alguém. É o Universo que se encanta pela possibilidade de existir e de destroçar na mesma intensidade. 

É o Caos que encontra a Calmaria na própria existência. É a Serenidade que irrita-se pela falta do Agito. 

É o Equilíbrio do Desequilíbrio que nos ajuda a encontrar as vidas que sonhamos, que tivemos e que um dia teremos. O caminho turvo que nos permite apreciar a diversão entre cada uma de suas curvas. 

Se a Incerteza é a prova concreta de que certezas existem; o Sólido indica e nos prepara para as avalanches de todas as volatilidades que nos cercam. 

Se o certo é duvidoso e o incerto é possibilidade concreta, a Existência desenha-se em seu esplendor em Castelos de Volatilidade e Nuvens de Concretude. 

Deixe o Ser deixar de existir e o Nada transformar-se em tudo. Deixe o processo inverso acontecer também. Apesar da humilde sugestão, não esqueça que não temos autonomia completa em nenhum dos casos. 

Espero que a Volatilidade construa o que queira e o Sólido desmanche-se a sua própria medida. Espero que ambos se destruam e se ergam. Espero que encontrem o significado de Equilíbrio nesse Desequilíbrio que chamamos de vida. 

E espero que estejamos todos nós em cada uma dessas partes que jamais evitaremos.

***

Arte de capa de Piet Mondrian

Que o texto de hoje seja um alento – ou tormento – a quem o leia.

Ponderadamente, 
Julia.

Aqueles que não voltarão

Estamos em uma dívida constante com os Senhores do Tempo. Cobramos do Passado os dias que uma vez chamamos de hoje e a vida que chamávamos de nossa. Devemos ao Presente a vontade de viver que reservamos as expectativas do Futuro. Esperamos do Futuro a concretização de tudo o que sonhamos no Passado e no Presente. 

A dívida é formada pela incapacidade de mensurar. Mensurar quanto do Passado deixamos que nos afete; o quanto do Presente permitimos que se possa agir; quanto do Futuro podemos criar expectativas. 

Não entendemos os Senhores porque deles não sabemos nada sobre e, na maioria das ocasiões, ignoramos o que pouco entendemos. Entretanto, há um resquício da sua presença que nos acompanha. A memória viva da sua presença está em quem nos cerca: nos que caminham conosco há um tempo, nos que surgiram agora e naqueles que um dia aparecerão. 

O difícil está em reconhecer quem são e em que temporalidade da vida ficarão. Certas pessoas gostaríamos que ainda estivessem no agora. Outras foram embora e preferiram ficar no Passado ou foram deixadas lá permanentemente. Algumas desejamos reencontrar em um dia próximo. O resquício do Tempo que nos acompanha é tão fluído quanto o próprio. 

A conformidade não é tão presente como deveria. Mal dizemos a passagem do tempo e mal compreendemos quem estava, está ou estará durante todo o processo. Se o Tempo é o Senhor da Verdade, por que não teve a decência de ensinar a todos nós esta parte? 

Por vezes só desejamos relembrar o que fomos. Talvez, aqueles que sejam dotados de boa memória possam reviver o que já chamaram de vida – em todo seu esplendor e ênfase – outra vez. Quem sabe, alguns privilegiados tenham a possibilidade de, por um nanosegundo, guiar a mente, alma e coração ao Passado e revivê-lo como se fosse o Presente. 

Ótimo feito aos que conseguem. Contudo, espero que saibam fazer a viagem de volta. 

Ao Passado das memórias, ao Presente das angústias e ao Futuro das esperanças: todos, uma hora ou outra, representam a vida e suas escolhas. Querer fragmentá-los e dissociá-los não é coerente; muito menos, esperar que se aglutinem. 

Não há alento em ficar preso às memórias. A alegria da volta será momentânea, assim como a própria vida. Quanto mais apegado ao que já se perdeu, menos lúcido do agora estará. 

Deixamos parte da vida para trás. Dissemos Adeus pela última vez. 

Sabendo disso, temos consciência daqueles que não voltarão. Daqui a uns anos serão apenas uma memória turva, uma sombra presente, em um vestígio do passado. Sua presença não é ignorada, muito pelo contrário. Apenas preferimos deixá-las como memória; deixá-las como lembrança, mesmo que efêmera, daqueles que não voltarão. 

São aqueles que não permitimos trazer ao Presente. Deixamos sob o único encargo do Passado. Alguns deles se perderão pelo caminho e outros deixamos por conta própria lá.

Não me assusta concluir que, um dia, também serei uma dessas pessoas. Ficarei para trás reservada a uma pequena memória ou ao total esquecimento. E de nada me assusta.

Talvez o limbo das ideias e das lembranças seja apenas um lugar para existir – ou deixar de existir. É um vazio repleto de tudo e nada – tudo que já foi; nada que sobrou. O ambiente das próprias personas que foram enterrados, de quem esteve neste tempo e não caminhou conosco depois. 

Por isso, deixe-me no Passado sem qualquer pesar ou ressentimento. É um lugar a que pertenço; senão agora, em um Futuro – próximo ou não. 
Já que deixei tantos outros lá, por que não seria capaz de ficar eu mesma? Em algum ponto, cada um de nós compõe aqueles que não voltarão na vida de alguém.

***

Arte da capa de Lesley Oldaker

Sem ressentimento dos Senhores do Tempo desta vez. Obrigada pela leitura. Até breve!

Atenciosamente, 
Julia.

Barra de Desassossego

Trazer o Desassossego como tema para um escrito pode parecer a tentativa de invasão um espaço pessoal, individual e particular. A descrição que a gramática nos proporciona nos dicionários para esta palavra parece não ser o suficiente; cada um de nós agrega um significado próprio. 

Em uma esfera mais profunda do subconsciente, há um desarranjo de sentimentos em relação ao Desassossego. A palavra, quando raciocinada, causa inquietação. A mente, desconcertada, encara o Desassossego como um segredo a ser sussurrado entre outros pensamentos – evitando, a todo custo e esforço, que esta sensação perdure.

Este movimento pode passar despercebido para quem estiver desatento; todavia, uma mente questionadora não deixaria esta lacuna em branco. Por que a descrição sobre o Desassossego é insuficiente e há tanto a ser dito? Qual é a causa do desconforto se pensado sobre ele? O devaneio de hoje ocupa-se em guiar os leitores para que possam responder à sua maneira tais questões e muitas outras. 

A Natureza Humana, incerta e mutável, torna-se o centro das atenções quando o comportamento humano está em cena. Não cabe aqui, neste momento, tentar enquadrá-la em poucos adjetivos ou convicções. Tomaremos, pois, apenas um aspecto a ser discutido e pensado: a inquietude que permeia o ser humano. 

Em todas as suas possíveis extensões, físicas e – especialmente – mentais, o indivíduo, mesmo acomodado, demonstra insatisfação com a própria inércia. Pegando como exemplo o âmbito mental, os pensamentos realinham-se em nanosegundos; o cérebro, mesmo enquanto dormimos, jamais interrompe suas funções. A agitação está  presente a cada tomada de consciência e ao despertar da inconsciência. 

A partir do momento em que o ser humano começa a questionar sua própria existência e tudo o que está a sua volta – ou em sua mente, assumimos um estado de tormento e dúvida constante. Nestes momentos, dificilmente encontramos a sensação de equilíbrio, satisfação ou calmaria; notamos que mente e coração não encontram-se em harmonia, a velocidade do pensar não acompanha a velocidade do sentir e vice-versa. A todo instante, há algo de errado; um alerta de que nada encontra-se nos eixos. 

Neste ponto, chegamos à nossa primeira tentativa de compreender o que seria o Desassossego: um estado de alerta que ocasiona uma incessante inquietação na alma e no coração de cada um de nós. 

Fernando Pessoa, com primor e excelência, escreveu o “Livro do Desassossego” onde argumentou, com talento e perspicácia: 

“Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende.”

Livro do desassossego, Fernando Pessoa.

Torna-se uma busca incessante, pelo o que eu não saberia dizer ao certo e penso que ninguém jamais descobriu. Talvez seja da chamada Natureza o impulso de não permanecer na inércia; talvez seja a necessidade impreterível de continuar – o perigo de permanecer estático é arriscado e algo que não deseja ser encarado. 

Esta reflexão ousa ir mais longe e considerar que nada está bom ou minimamente satisfatório em qualquer momento ou qualquer realização. Não sabemos dizer o que há de errado por achar que nada acaba sendo o suficiente. A inquietação abre espaço com condecorações ao desespero. E este, por sua vez, acaba dominando o pouco de controle que o ser humano ainda tinha. 

Pela inquietação, a busca era incessante. Pelo desespero, a busca torna-se insustentável e degradante. 

A procura pela mudança, em um primeiro instante, pode parecer uma iniciativa positiva, estimulante e até cativante. Contudo, não estamos à deriva deste tipo de mudança. A angústia pelo desejo de que a vida não seja estática origina uma procura incessante e desgastante na mesma proporção.

Procuramos, então, neste ponto da reflexão, a origem de tal necessidade. Anteriormente, já afirmei que não tenho resposta para nada, mas perguntas para tudo; e aqui está a próxima questão: essa necessidade desgastante é realmente sua? A infelicidade e a falta de contentamento consigo mesmo foi uma conclusão que chegou por conta própria ou por que algum fator externo sobressaiu-se diante de qualquer autopreservação que ainda lhe restava? 

O embate fica travado entre dois panoramas existenciais que desgastam a existência de quem a eles fica submetido: uma mente autodestrutiva que não contenta-se com nada e uma presença maquiavélica externa repleta de exigências, padrões e demandas. É, justamente, a parte externa que acaba sendo agravada e incomensurável ao percebermos que não estamos falando apenas do ciclo social em que estamos envolvidos; consideramos também o ambiente virtual. 

A necessidade pela busca que a pouco mencionamos encontra na Internet o que aparenta ser uma possibilidade divina: a barra de pesquisa do Google como a fonte miraculosa de soluções para qualquer problema. 

Entretanto, as soluções não são resolutas ou eficazes. Os milagres ofertados como respostas não são reais, mas proporcionam uma crença imutável de que são. E que, mesmo com a inconsistência apresentada, leva o indivíduo a acreditar que a solução está a apenas um clique. 

Não falamos aqui de perguntas técnicas e práticas que, de fato, podem ter soluções ofertadas pela barra de pesquisa. Estamos citando as situações em que as respostas criam uma pseudo realidade e oferecem a ilusão tentadora de que tais soluções poderiam ser genuínas. 

Observe por conta própria as perguntas que fazemos no Google, muitas vezes de forma automática. Há um aviso do subconsciente de que a resposta não trará ao mundo físico e real o que desejamos; mas a sede para acabar com essa inquietação e sancionar a angústia nos faz querer pesquisar. Porque queremos acreditar que a mudança – neste caso específico que apresentamos – será solucionada por apenas um clique. Temos, assim, a sensação de que saímos da temida inércia só pela iniciativa da pesquisa. 

As famigeradas thread tentam “ensinar” 5 passos para alcançar a fama ou para ter sucesso, despertando uma vontade endógena de ser reconhecido e de ter valor. A possibilidade de significar algo e de ser alguém encanta os olhos de todos que desejam acabar com o sentimento de inutilidade e inquietação. Vemos uma oportunidade para ter paz interior. 

Artigos de blog apresentam as “Profissões do Futuro” onde desesperadamente esperamos estar incluídos ou encontrar potencial próprio na lista apresentada. Enxergamos cada uma das profissões listadas como uma garantia de que no futuro incerto teremos a estabilidade que ensandecidamente buscamos no presente. Queremos encontrar a todo custo uma base, algo sólido, alguma coisa que nos dê sustentação e cesse a angústia que nos consome no presente (e parte da que nos consumiu no passado). 

Testes de personalidade dão a impressão de que fazemos parte de um grupo, parte de algo. É reconfortante imaginar que a mesma angústia, os mesmos traços são compartilhados com mais pessoas. Não estamos sozinhos ou isolados – porque o ser humano entra na própria desgraça ao se imaginar em um passado, presente ou futuro solitários. 

Há uma possibilidade, absurdamente pequena e relutante, de que alguém com discernimento, boa interpretação, alta capacidade de aplicação e muita sorte possa encontrar o que precisava no meio destas perguntas. Quem sabe, alguém – de fato – encontre seu próprio milagre que não seja uma ilusão alentadora. 

Apesar de querer acreditar (e torcer) para que este fosse o caso da grande maioria, a probabilidade não é compatível com o esperado. Estamos no lado que terá que trabalhar de outra maneira para achar suas próprias respostas

Talvez o problema também seja o fato de que não estamos preparados para lidar com nós mesmos. O autoconhecimento nos apavora, já que preferimos ocultar, esquecer e negar as partes que somos. Por isso, respostas genéricas têm efeito manada; justamente porque são genéricas – referem-se a ninguém e a todo mundo contraditoriamente, tendo seu efeito multiplicado no meio virtual. 

Olhando para a “for you” ou para o “feed” tentamos encontrar algo que não está lá e jamais estará. Aqui, fica óbvio que a busca será incessante porque estamos atrás de um conforto que nunca existirá se não começarmos a nos entender por conta, vontade e iniciativa própria. 

Atente-se: a comparação dilacera o espírito de quem está tentando se encontrar. 

Acelera um processo em que não cabe a medida da velocidade; as questões e os parâmetros deveriam ser outros. Trocar os padrões alheios pelo autoconhecimento; privilegiar a paz de espírito e não satisfação da provação alheira. Contentar-se por ser o suficiente e  não por conseguir atingir o que era esperado de você.

Apresento a hipótese de que parte do Desassossego que carregamos não nos pertence de fato. Um compilado de pressões externas, coisas que não deveriam ter sido ditas mas infelizmente foram escutadas e absorvidas. O subconsciente trabalha contra nós nos casos que memorizou o que deveria ter sido desprezado e agora está ocupando espaço nas paredes da mente – um espaço que talvez estivesse destinado a outras memórias; aquelas que, de fato, deveríamos carregar. 

Graças às memórias desprezíveis,  o conforto não é encontrado, tampouco a paz. O espírito que já é agitado por natureza própria acaba tornando-se frenético – um ritmo acelerado e descompassado que mal pode ser chamado de ritmo. Um caminho propício para acomodar os demônios internos que cativamos. 

Por esta razão, ficar parado não é uma opção. Não engane-se ao ler isso de forma otimista, este aspecto talvez seja o último da lista. Não podemos sucumbir à inércia porque o perigo é jamais voltar de lá. O lado tenebroso no Desassossego é deixar que o estado de angústia provocado por ele nos consuma constante e impiedosamente. 

Ser consumido pelo nada por pensar que ele pode significar e dominar tudo. 

Tudo o que não nos atormentava mais e tudo o que restou do doloroso processo. O medo de perceber que a paz de espírito não é plena e demonstra indícios que jamais será. Entretanto, tudo isto em nenhuma hipótese será motivo para sucumbir totalmente. 

Tenhamos todos um pouco mais de confiança no processo e em nós mesmos. Não posso oferecer a garantia de que um dia o desassossego desaparecerá; todavia, enxergá-lo com uma parte válida e essencial da vida é um caminho. 

O autoconhecimento será o responsável para que possamos encontrar o equilíbrio novamente. Conhecer e estabelecer os próprios limites, entender o porquê pensamos determinadas coisas e a que decisões chegamos são passos que demorarão mas nos guiarão para liberdade de ser. 

O processo é conturbado e demanda tempo; entretanto, o alívio de poder entender-se, de controlar as expectativas e o tempo é, certamente, um bom incentivo. E, se vale de consolo, estarmos respirando já é um sinal que saímos da inércia. Controlar parte do desespero é preciso para enxergar além do que vimos sufocados. 

Deixe a Angústia e o Desespero partirem em uma viagem sem volta. Apesar do Desassossego não poder juntar-se a eles, considere-o agora um amigo de longa data de quem passou a apreciar a companhia, eventualmente.

E a Paz no final disto tudo? Esta ficou entretida com suas parceiras Calmaria e Equilíbrio. Espero que todos nós sejamos capazes de um dia, quem sabe, ser convidados para tomar um chá ou café entre este seleto grupo. 

***

Que de alguma forma este texto possa ter quebrado ou, ao menos, minimizado a frequência de desassossego de alguém que o leu! Agradeço pela leitura. Até breve!

Solenemente, 
Julia.

Rascunhos Rebuscados

O que querem de nós, afinal?

Por muito tempo desejei um espaço em que a Liberdade pudesse ser usada em sua forma mais pura e autêntica. Gostaria de escrever e enxergar a escrita como um ato para testar os limites das ideias que tinha e um experimento para ver até onde poderiam chegar. Ver, inclusive, se a Imaginação e a Criatividade tinham limitações. 

Não foi difícil perceber que certa hora o limite chegaria. Entretanto, o intragável da história está em como ele se deu. 

Adoraria publicar o primeiro texto desta coluna sobre um assunto mais ameno e menos incisivo. Talvez – alguns diriam – menos polêmico; contudo, tenho a suposição de que tudo torna-se polêmico nas mãos de quem quer comprar briga.

A escrita também é um processo de autoconhecimento. Quão boa é sua ideia ao ponto de torná-la concreta usando uma certa escolha de palavras

Escrevi em todos os momentos que pude ao longo desses (quase) 20 anos; todavia, meus textos mais sinceros em todos os aspectos de criação foram aqueles que entreguei aos meus amigos. De bilhetes à cartas, eram nesses momentos em que eu encontrava alguma paz de espírito. 

Devo muito a todos eles. Porque, graças a episódios como esses, percebi que gostava de escrever pela liberdade que sentia e pela possibilidade de imaginar que alguém estaria interessado no que eu estava disposta a dizer. 

Adoraria sempre oferecer palavras de conforto ou de certa substância para conseguir, ao menos, entreter de forma agradável quem dispusesse de parte do seu tempo para ler o que tenho a escrever. Entretanto,  não são todas as situações que enquadram-se a este molde. 

Talvez crescer e amadurecer também signifique que teremos que encontrar inspiração por conta própria. Para alguém que considera escrever uma ação prazerosa, começa a ficar claro que determinados assuntos ultrapassam a mera vontade e curiosidade; alguns deles precisam ser ditos – ou melhor – escritos

Por essa razão, o escritor também deve mostrar traquejo com as palavras que ousa fazer usas – mesmo que por apenas um instante ou metade de um papel. Palavras carregam consigo significados únicos e precisos; escolher seu melhor arranjo com primor não é uma tarefa sistemática.

Nada é o que parece; as maravilhas estão nos detalhes. A relação do escritor com seu texto pode ser comparada com a existência de um caleidoscópio: novos arranjos podem ser criados a todo momento, tudo depende da perspectiva. 

Rascunhos, com ajustes e alterações, tornam-se textos rebuscados. O potencial, de fato, só existe porque o núcleo da ideia conservou-se – ou seja, desde o início, já existia um rascunho rebuscado que buscava por um escritor para desenvolvê-lo. 

Todavia, apesar das esplendorosas visões que essa motivação pode guiar, um específico tipo de público (se é que poderíamos chamar desta forma) flagela qualquer resquício de criatividade com uma busca incessante pela perfeição que alcança níveis utópicos. “Deslizes não são permitidos” – um mantra perverso que certas pessoas, pela constância e insistência, vencem pelo cansaço e, sorrateiramente, fazem os outros acreditarem em uma falácia como esta. 

Há algo de errado, para dizer o mínimo. Começamos, pois, a desenrolar este devaneio. 

Um fator disso tudo me incomoda a muito tempo. Os limites que antes esperava encontrar por contra própria foram, na realidade, criados, intitulados e moralizados de forma pífia por vias terceiras. Alguns, interessados em perseguir uma perfeição inexistente e exigi-la a qualquer custo; outros, ousam ultrapassar os parâmetros da decência e da moralidade ao criticar de forma desproporcional e inconcebível. O propósito deste grupo passa a ser atacar de forma agressiva, absurda, desproporcional, incoerente e execrável. O objetivo torna-se executar um julgamento sem que o réu tenha direito a defesa ou retalhação; além de constrangê-lo até a última instância. 

Quão poucos são aqueles que se atém à palavra decência? Não acho sensato esperar – ou exigir – esta postura de alguém. Certas esperanças não precisam ser nutridas quando no fundo já sabemos que resultarão em decepções.

Um conselho? A raiva, o ódio, a agressão e os insultos proferidos por muitos, são os sinais de uma alma atormentada pela vida e pela própria realidade. Sendo assim, ignore-os. Eu mesma deveria aplicar esta fórmula mais vezes. Entretanto, creio que pode ser da Natureza Humana tentar buscar a compreensão, mesmo nos casos de estupidez. 

O verbo criticar, neste ponto, é deturpado em grandes proporções. A ironia presente é que os próprios críticos não sabem o que é ou como sequer executar uma crítica. 

Dirigir-se a “Todo mundo” é a mesma coisa que falar para o além. Se o discurso é genérico e, especialmente, generalista, desconfie. Genérico no sentido de dizer tudo e não chegar a lugar nenhum. Generalista, ao evocar todos e não citar ninguém. Em outras palavras, quando o conteúdo e o destinatário são imprecisos, desconfie

Segundo esta escumalha há temas que eu não deveria escrever, falar ou argumentar sobre. Porque mesmo escolhendo o melhor arranjo de palavras, de qualquer maneira, alguém irá mal interpretá-las. Se as palavras não agradam, muito menos a escolha pelos assuntos. O que esperam de mim, afinal? O que esperam de todos nós? Gostaria de dizer que rebato a hostilidade de alguns com a minha indiferença. Porém, até mesmo esta, está reservada para outros assuntos. Sendo assim, me resta deixar claro a posição que assumo. Àqueles que de conteúdo nada entendem, vão se fuder. Não se assuste pela escolha de palavras, inclusive. Aqui, nada melhor e mais sonoro do que um bom palavrão empregado – expressa, justamente, a adequada tonalidade a ser usada.

Sugiro a estes sanguessugas de espírito e ânimo que escolham outro alguém para tirar o sossego já que de mim ganharam no máximo desprezo. Reservo-lhes um outro ambiente: o puro esquecimento. Seu lugar lá estará garantido sem nem ao menos necessitar de agendamentos prévios. 

Refiro-me aqui a ninguém e a todo mundo (percebe a ironia?). Entendam estes como quiserem. Já sei que, provavelmente, neste ponto, algum deles já terá deturpado o que escrevi; então, de pouco importa (ou de pouco me interessa).

A hostilidade que aqui demonstro, caso ainda não tenha ficado clara, é puro e explícito sinal de autopreservação. Por que assumir esta postura? A probabilidade de consideração de eventos múltiplos e variadas repercussões está a meu favor. Em outras palavras, reportar-me sobre algo que ainda não ocorreu (mas já estava premeditado justamente por ser inevitável em um certo ponto) é mais estratégico do que esperar a ordem dos fatores. 

Livro-me de qualquer entrave, restrição ou contenção que, involuntariamente, poderia estar comigo e aproveito a deixa para esclarecer o que mais for necessário. Assumo categoricamente: aqui, reivindico o espaço de livre-pensar. Deixaremos claro, explícito, acordado e categorizado: 

que a Liberdade de pensar, ser e existir impere;

que a Intolerância não tenha lugar;

que os Direitos Humanos sejam referências e não objetos de ironia por quem jamais os compreendeu;

que a Ciência e a Educação sejam entendidas como pilares

e que a vida possa ser vivida com o máximo de Dignidade possível.

Resta-me ser, em todas as proporções, humilde. Afirmo peremptoriamente: não tenho respostas para nada, mas tenho perguntas para tudo. A humildade apresenta-se no ser ao assumir que não detemos toda verdade; a autenticidade vem da busca pela compreensão da mesma. 

Neste ponto, ela apresenta-se ao lado do respeito – como dois conceitos intrínsecos, indissociáveis e aplicados de mão dupla.A partir do momento que haja transgressão de uma dessas ideias, não devo nada a ninguém que não esteja disposto a comportar-se de modo recíproco. Há uma postura humilde em reconhecer que ninguém é dono da verdade; a autenticidade de todo o processo está em buscar por ela. Por vezes, não a encontraremos, mas o caminho percorrido por si só já é revelador. 

Não atrevo-me a dizer em nome de ninguém; não ouso fazer de minhas palavras as dominantes. Falo única e exclusivamente por mim mesma. Me responsabilizo apenas pelas palavras que escolho e pela forma como as digo. 

Retornando ao fulcro da questão que, de fato, interessa, invoco a lei maior: escrevo porque quero e tenho vontade. Escrevo sobre o que quiser. Tomarei como guia o caráter que construo a quase 20 anos e os valores cultivados; deixarei os ideais inspirarem e alimentarem as vontades do ser. Que seja esplêndido sua existência só pelo fato de existir. 

Escrevo porque esta é a forma de libertação que conheci. Talvez exercer plenos poderes sobre a escolha de palavras seja uma sensação de controle que aprecio. Já que, pelas palavras que uso, escolho as armas para lutar em cada batalha.

Não esperem a concretude dos aplausos e da glória para buscar pelo esplendor. Por vezes, carregar consigo a paz de espírito e a calmaria da mente é a maior consagração de vitória e de sucesso que alguém pode conhecer.

Por essa razão, posso afirmar que escreveria este texto novamente, com as mesmas palavras, nas duas circunstâncias extremas: sem ninguém para lê-lo ou com uma plateia esperando por ele.

Tendo argumentado e firmado certas posições, encontro-me em um estado que há tempos não estava mais acostumada: alívio. Mesmo com um adversário desconhecido, coloquei minhas cartas em jogo com convicção e estratégia  para buscar a vitória. 

Caso a metáfora não tenha se esclarecido por conta própria, fica sua versão explícita também ao caro leitor: a vitória nada mais seria do que a liberdade de ser.

Apesar do jogador adversário ainda permanecer no anonimato – seja pelo tempo ou pelas circunstâncias – algo me diz (e fica a critério do leitor chamar este evento de acaso ou pressentimento) que este jogo está a meu favor.

***

Acostume-se, os textos neste blog serão extensos. Entretanto, creio que se chegou até o final deste primeiro,  talvez se interesse pelo o que vem por aí. Agradeço pela leitura! Até breve. 

Autenticamente, 
Julia.

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