Somos os que emergem e afundam na mesma intensidade. Os escolhidos simultaneamente pela glória e pelo fracasso. Os que conhecem as montanhas e os penhascos e os que vivem tudo isso às vezes sem nem mesmo existir.
Alguns de nós são devotos do próprio ser, onipotentes da própria alma e oniscientes da própria mente. Outros são o vazio da vida ou ausência do caminho.
Com tantas controvérsias e paradigmas, de alguma forma, somos os libertadores e os aprisionados e somos a criação que sonha ser o criador.
A maioria das vezes que tentamos criar, fracassamos como criaturas. De nada a nossa criação foi como o desejado, porque no fundo não sabemos mais o que desejar.
Talvez porque nesse processo muito se quis e pouco se deu. Porque o criador e a criação jamais se entenderam, jamais cooperaram em uníssono e jamais chegaram onde desejaram.
O criador nunca criou de verdade.
A criação nunca foi feita por completo.
Porque o esforço foi infrutífero e não se soube o que era reconhecimento. A criação que criamos de nada importa se é só a vazio que dela restará.
E o processo foi cansativo mas só alguns e outros como nós entenderam.
Talvez porque somos os esquecidos que esqueceram-se de esquecer. Os perdidos abandonados pelo tempo e pelo espaço. Os espíritos que não partiram ou desapareceram, apenas foram ficando.
Somos os que aprenderam a sentir, mas nem sempre a dizer. Aqueles que queriam existir e não esquecer.
Somos a alma angustiada, fraudada por cores e vidas. Somos a dor que nunca some, a alegria que não nasce e a tristeza que não se perde.
Somos o Ninguém e o Nada é o lugar que chegamos, ou melhor, o único que criamos.
Os esquecidos que foram abandonados mesmo antes de existir; os amantes que jamais conheceram o amor; os poetas que abandonaram a poieses.
Somos os que foram abandonados, deixados e largados às margens das maravilhas que um dia nos prometeram.
Somos a esperança dos tempos de glória e a desgraça dos tempos da derrota.
Somos aqueles que sonham mas, que na maioria das vezes, alucinam.
Somos os que tentam e persistem; somos o que podemos e fazemos o possível.
E às vezes somos o desespero de se ver em todo lugar e não pertencer a nenhum.
Somos o delírio da alegria de viver e o abismo do desassossego de existir. Seremos o Passado, o Presente e o Futuro; mas mesmo assim seremos os ausentes.
E nada de redundante temos nisso tudo; só queremos a opção de, pela primeira vez, não precisar mais ser.
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Arte de Aarti Shinde
O texto só para aqueles que sabem quem são.
Espirituosamente,
Julia.