O alento que Billy Joel nos ofereceu

Estar à deriva da Vida traz à tona alguns elementos com os quais, muitas vezes, não estaremos preparados para lidar. Quando o desespero tomar espaço e a urgência tomar a mente, lembre-se que Billy Joel antecipou este movimento e criou um antídoto para este ciclo viciante da nossa própria existência.

Billy Joel – Vienna (Audio)

Slow down you crazy child
You’re so ambitious for a juvenile
But then if you’re so smart tell me
Why are you still so afraid?

Quantas vezes não sentimos uma necessidade incessante para ser e para ter mais. Exigimos um padrão acima de qualquer resquício de bom senso; apostamos o que temos e o que não temos em um futuro incerto e duvidoso. Estamos ávidos pelo o que podemos ter e podemos ser; esquecemos do temos e somos.

Where’s the fire, what’s the hurry about?
You better cool it off before you burn it out
You got so much to do and only
So many hours in a day

A cada instante, perdemos a capacidade de desacelerar o modo automático da vida. O desespero crescente de otimizar todas as horas do dia para fazê-las produtivas a todo custo. E, mesmo assim, ainda não estamos fazendo ou sendo o suficiente.

But you know that when the truth is told
That you can get what you want
Or you can just get old
You’re gonna kick off before you even get halfway through 
When will you realize, Vienna waits for you?

O ritmo frenético para chegar onde tanto se deseja; mas, jamais contanto com a garantia de que isto acontecerá. Entretanto, há um lugar que pode nos ofertar a calmaria que desesperadamente precisamos. Um lugar em que poderíamos reaprender a desacelerar.  

Slow down you’re doing fine
You can’t be everything you want to be before your time
Although it’s so romantic on the borderline tonight

Dê tempo ao tempo; dê tempo aos seus planos. Não exija demais. 

Too bad, but it’s the life you lead
You’re so ahead of yourself that you forgot what you need
Though you can see when you’re wrong
You know you can’t always see when you’re right

Presos à ilusão de que o futuro nos envolve de forma reconfortante, esquecemos das partes da vida que realmente precisamos e que somente o tempo presente pode nos oferecer. 

You got your passion, you got your pride
But don’t you know that only fools are satisfied?
Dream on, but don’t imagine they’ll all come true 
When will you realize, Vienna waits for you?

A maravilha está na possibilidade, liberte-se para sonhar mais e aprenda que ainda há certa beleza naquele sonho pelo qual esperamos mas nunca aconteceu.

Slow down you crazy child
Take the phone off the hook and disappear for a while
It’s alright, you can afford to lose a day or two 
When will you realize, Vienna waits for you?

Permita-se perder-se no tempo algumas vezes; parte da vida é não saber onde, como ou quando iremos nos encontrar. Apenas não esqueça de recobrar os sentidos depois.

And you know that when the truth is told
That you can get what you want or you can just get old
You’re gonna kick off before you even get halfway through 
Why don’t you realize, Vienna waits for you?

***

Talvez, seja tudo uma questão de tempo. Travamos uma constante, inesgotável e exaustiva briga a todo instante com os Senhores do Tempo: Passado, Presente e Futuro. Reservamos ao primeiro os espaços da memória. Ao do meio, os espaços das angústias. E ao último, os espaços dos sonhos.

Nossa discordância não é singela. A inquietação vem da percepção de que para o Futuro estão reservados às glórias, o esplendor e magnificência que a vida tem a oferecer. Enquanto que no Presente, a agonia, a angústia e a ânsia por mais imperam. A necessidade de querer mais a todo tempo – ser mais; ter mais. 

O Futuro, sendo palco do desconhecido e sujeito da imprecisão, curiosamente parece ofertar mais que o Presente. Talvez, sonhamos tanto com o dia de amanhã justamente por poder sonhar. Enquanto ainda não for concreto, podemos modificá-lo em qualquer circunstância, vontade ou desejo. É o único momento em que podemos brincar com a onipotência. 

O Presente é aquele de quem mais guardamos ressentimentos, uma vez que dele exigimos muito e nos é exigido. Seu braço direito, o tal do Relógio, apresenta aos mais calmos a precisão da hora e aos mais rudes a corrida com ele. 

Entretanto, se guardamos todos os sonhos para o Futuro, de que será formado o Presente? Esquecemos que o dia de hoje já foi o palco dos sonhos uma vez e que passou seu título adiante junto com o decorrer da Vida. 

Haveria alguma escapatória para este combate com os Senhores? Não podemos julgá-los porque estão apenas fazendo seu trabalho, é uma questão impessoal. Quem sabe, não poderíamos aprender a enxergá-los de outra forma, encontrando alguma possibilidade de trégua.

Talvez, Vienna seja a cidade do Tempo Perdido. Onde um estabelecimento, com um piano ao centro, nos oferece a melodia do reconforto que tanto precisamos. Embora não seja a cidade de Proust, é o local onde no presente o imaginário e a vida ganham o espaço que merecem.

Um lugar em que os Senhores do Tempo respeitam a existência e que, pela primeira vez, encontram paz e harmonia entre si. Um ambiente onde as respostas não precisam ser ditas, haverá oportunidade para elas mais tarde. Não entenda mal, a cidade do Tempo Perdido não as ofertará, apenas servirá de guia para que todos possamos finalmente encontrá-las. 

Curioso pensar em um local como esse. Ninguém sabe ao certo como abrir as portas da cidade; contudo, uma vez encontradas as chaves, estas jamais se perderão. O primeiro passo já nos foi ofertado por Billy Joel quando reaprendemos pela prática a sensação de alento.  

Afinal, Vienna está esperando por todos nós. 

Lançada em 1977,  a canção de Billy Joel oferece muito a qualquer geração e qualquer indivíduo que se disponha a escutá-la. Resta-nos agradecê-lo por este alento. 

Obrigada pela leitura. Até breve!

Serenamente, 
Julia.