O alento que Billy Joel nos ofereceu
Estar à deriva da Vida traz à tona alguns elementos com os quais, muitas vezes, não estaremos preparados para lidar. Quando o desespero tomar espaço e a urgência tomar a mente, lembre-se que Billy Joel antecipou este movimento e criou um antídoto para este ciclo viciante da nossa própria existência.
Quantas vezes não sentimos uma necessidade incessante para ser e para ter mais. Exigimos um padrão acima de qualquer resquício de bom senso; apostamos o que temos e o que não temos em um futuro incerto e duvidoso. Estamos ávidos pelo o que podemos ter e podemos ser; esquecemos do temos e somos.
A cada instante, perdemos a capacidade de desacelerar o modo automático da vida. O desespero crescente de otimizar todas as horas do dia para fazê-las produtivas a todo custo. E, mesmo assim, ainda não estamos fazendo ou sendo o suficiente.
O ritmo frenético para chegar onde tanto se deseja; mas, jamais contanto com a garantia de que isto acontecerá. Entretanto, há um lugar que pode nos ofertar a calmaria que desesperadamente precisamos. Um lugar em que poderíamos reaprender a desacelerar.
Dê tempo ao tempo; dê tempo aos seus planos. Não exija demais.
Presos à ilusão de que o futuro nos envolve de forma reconfortante, esquecemos das partes da vida que realmente precisamos e que somente o tempo presente pode nos oferecer.
A maravilha está na possibilidade, liberte-se para sonhar mais e aprenda que ainda há certa beleza naquele sonho pelo qual esperamos mas nunca aconteceu.
Permita-se perder-se no tempo algumas vezes; parte da vida é não saber onde, como ou quando iremos nos encontrar. Apenas não esqueça de recobrar os sentidos depois.
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Talvez, seja tudo uma questão de tempo. Travamos uma constante, inesgotável e exaustiva briga a todo instante com os Senhores do Tempo: Passado, Presente e Futuro. Reservamos ao primeiro os espaços da memória. Ao do meio, os espaços das angústias. E ao último, os espaços dos sonhos.
Nossa discordância não é singela. A inquietação vem da percepção de que para o Futuro estão reservados às glórias, o esplendor e magnificência que a vida tem a oferecer. Enquanto que no Presente, a agonia, a angústia e a ânsia por mais imperam. A necessidade de querer mais a todo tempo – ser mais; ter mais.
O Futuro, sendo palco do desconhecido e sujeito da imprecisão, curiosamente parece ofertar mais que o Presente. Talvez, sonhamos tanto com o dia de amanhã justamente por poder sonhar. Enquanto ainda não for concreto, podemos modificá-lo em qualquer circunstância, vontade ou desejo. É o único momento em que podemos brincar com a onipotência.
O Presente é aquele de quem mais guardamos ressentimentos, uma vez que dele exigimos muito e nos é exigido. Seu braço direito, o tal do Relógio, apresenta aos mais calmos a precisão da hora e aos mais rudes a corrida com ele.
Entretanto, se guardamos todos os sonhos para o Futuro, de que será formado o Presente? Esquecemos que o dia de hoje já foi o palco dos sonhos uma vez e que passou seu título adiante junto com o decorrer da Vida.
Haveria alguma escapatória para este combate com os Senhores? Não podemos julgá-los porque estão apenas fazendo seu trabalho, é uma questão impessoal. Quem sabe, não poderíamos aprender a enxergá-los de outra forma, encontrando alguma possibilidade de trégua.
Talvez, Vienna seja a cidade do Tempo Perdido. Onde um estabelecimento, com um piano ao centro, nos oferece a melodia do reconforto que tanto precisamos. Embora não seja a cidade de Proust, é o local onde no presente o imaginário e a vida ganham o espaço que merecem.
Um lugar em que os Senhores do Tempo respeitam a existência e que, pela primeira vez, encontram paz e harmonia entre si. Um ambiente onde as respostas não precisam ser ditas, haverá oportunidade para elas mais tarde. Não entenda mal, a cidade do Tempo Perdido não as ofertará, apenas servirá de guia para que todos possamos finalmente encontrá-las.
Curioso pensar em um local como esse. Ninguém sabe ao certo como abrir as portas da cidade; contudo, uma vez encontradas as chaves, estas jamais se perderão. O primeiro passo já nos foi ofertado por Billy Joel quando reaprendemos pela prática a sensação de alento.
Afinal, Vienna está esperando por todos nós.
Lançada em 1977, a canção de Billy Joel oferece muito a qualquer geração e qualquer indivíduo que se disponha a escutá-la. Resta-nos agradecê-lo por este alento.
Obrigada pela leitura. Até breve!
Serenamente,
Julia.
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