Adoraria dizer que o pouco alento e a pouca estabilidade que encontramos na vida está nas coisas concretas e sólidas que nos cercam. Buscamos por eles pois nos atormenta entender que não há possibilidades para tais coisas.
E nos atormenta mais ainda começar a perceber que são poucos os momentos que as encontramos.
Buscamos o conforto que a estabilidade traz a qualquer custo e a qualquer esforço. Entretanto, a angústia jamais some. Por mais concreto que imaginamos certas pessoas, ocasiões ou planejamentos há uma parte do ser – que muitos diriam ser maldita – que não se conforma.
O sexto sentido, a percepção aguçada, ou como queira chamar, já nos avisa de antemão: algo dará errado. Uma vez que nada é ao acaso, sabemos – sem jamais admitir – que no fundo tudo que é sólido se volatiliza.
Estamos todos aflitos e sabe os por quês disso tudo?
Porque a mesma vontade de viver pode transformar-se na vontade de desaparecer em instantes.
Porque a angústia, a mágoa, a dor podem deixar sua essência de tormento; enquanto a alegria e a felicidade viram um falso alento.
Porque a admiração pode transformar-se em desprezo e a indiferença em apreciação.
Porque a vida se edifica da mesma forma como se destrói, já que o concreto é uma ilusão tão desleal quanto um castelo de areia.
Ouso ir mais longe: a única coisa sólida em que podemos nos equilibrar são os nossos próprios sonhos, construídos e moldados por nossas vontades e ambições. É o imaginário que propicia a essência de vida que nos ergue a cada dia. É o lúdico que permeia cada entranha do ser que nos permite sonhar e pelo sonhar nos permite existir.
É a vida que se solidifica, erguida em um mar de volatilidades. É o ser que se molda de sonhos porque acredita merecer ser alguém. É o Universo que se encanta pela possibilidade de existir e de destroçar na mesma intensidade.
É o Caos que encontra a Calmaria na própria existência. É a Serenidade que irrita-se pela falta do Agito.
É o Equilíbrio do Desequilíbrio que nos ajuda a encontrar as vidas que sonhamos, que tivemos e que um dia teremos. O caminho turvo que nos permite apreciar a diversão entre cada uma de suas curvas.
Se a Incerteza é a prova concreta de que certezas existem; o Sólido indica e nos prepara para as avalanches de todas as volatilidades que nos cercam.
Se o certo é duvidoso e o incerto é possibilidade concreta, a Existência desenha-se em seu esplendor em Castelos de Volatilidade e Nuvens de Concretude.
Deixe o Ser deixar de existir e o Nada transformar-se em tudo. Deixe o processo inverso acontecer também. Apesar da humilde sugestão, não esqueça que não temos autonomia completa em nenhum dos casos.
Espero que a Volatilidade construa o que queira e o Sólido desmanche-se a sua própria medida. Espero que ambos se destruam e se ergam. Espero que encontrem o significado de Equilíbrio nesse Desequilíbrio que chamamos de vida.
E espero que estejamos todos nós em cada uma dessas partes que jamais evitaremos.
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Arte de capa de Piet Mondrian
Que o texto de hoje seja um alento – ou tormento – a quem o leia.
Ponderadamente,
Julia.
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